setembro 30, 2005

Mediocridade e apatia

Das duas uma: ou o país está muito pior, ou apenas se está a ver melhor a si mesmo. A campanha para as autárquicas é um suceder diário de insultos, ameaças de agressão, agressões de facto e até um homicídio.

Pelo meio, proliferam insinuações, jogadas baixas, intimidações a adversários, populismo infantil (Gondomar, Felgueiras, Amarante...) e casos que vão seguir para tribunal, como no Porto.

O país espelha a sua mediocridade pública, perante a apatia das instituições e dos cidadãos.

setembro 28, 2005

Autoridade em causa

Artur Portela bateu com a porta na Alta Autoridade para a Comunicação Social, «em protesto contra o que considera ser a pressão do Governo para a alteração da metodologia de análise sobre a renovação das licenças de televisão.» (Público).

Portela explica que «o acto de um membro do Governo (Augusto Santos Silva) que convida o presidente de um órgão regulador - que é independente - para lhe dizer que as coisas devem ser feitas de certa forma e num determinado prazo, tem uma carga política».

A saída de Portela, numa altura em que a AACS está para acabar, vem adensar as suspeitas de intromissão do governo (sempre negada pelo mesmo) no processo de renovação das licenças dos canais privados, de modo a facilitar o negócio da venda da TVI ao grupo espanhol Prisa. A confirmarem-se, são gravíssimas.

Ora, este avolumar de suspeição tem, a prazo, pelo menos uma consequência: envenenar irremediavelmente o nascimento da Entidade Reguladora da Comunicação Social.

setembro 22, 2005

Público.pt e sítio da Impresa

Últimas do Travessias Digitais: dez anos do Público.pt e notas sobre o sítio maisautárquicas.com.

Tiques e traumas

Depois de conhecidos todos os cantos à Casa da Música, pela mão de uma guia sóbria e competente, a pergunta que nos fica é esta: estará o Porto à altura de um casarão destes? Isto é, terá a cidade e os seus arredores pedalada para aproveitar e manter todo o potencial deste magnífico pólo cultural?

Vamos ver. Há, no entanto, pequenos pormenores, aparentemente inócuos, que nos fazem temer o pior sobre certas abordagens elitistas a esta casa que se quer de todas as músicas. A certa altura da visita, a guia explica-nos que o camarote VIP foi implantado na sala principal por insistência de responsáveis da Porto 2001, contra a vontade do arquitecto, que, como bom holandês, o que quer mesmo é misturas descomplexadas. Mas não. Certa elite cultural do Porto fez mesmo questão de arranjar um espaço para poder mostrar ao povo quem está sempre acima da maralha.

Há tiques e traumas que a história não consegue apagar.

setembro 19, 2005

De olhares: do mestre Yimou

O Segredo dos Punhais Voadores, de Zhang Yimou, é daqueles filmes que apetece rever logo na noite a seguir. Belíssimo. Apesar do título enganador...

setembro 17, 2005

Quem tem medo da Prisa?

Pôr a TVI nas mãos da Igreja foi um enorme erro patrocinado por um governo de direita, ao tempo de Cavaco. A gestão beata do canal revelou-se penosa. A tabloidização comercial pela mão de Moniz aumentou substancialmente os níveis de poluição televisiva e degradação jornalística. Depois disto tudo, a direita portuguesa ainda tem medo dos espanhóis?

setembro 13, 2005

De leituras: 'Internet, o Êxtase Inquietante'

No Travessias Digitais escrevo sobre um pequeno, mas provocante, livro: Internet: o Êxtase Inquietante.

Incidentes

Num shopping, um homem come a sopa com a mão direita enquanto com a esquerda bate furiosamente as teclas do telemóvel.

Uma mulher, parada num cruzamento, dentro de um Fiat Uno, avança com o vermelho do semáforo ainda bem carregado. Charlava calmamente ao telemóvel, por ali fora.

Uma miúda quase atropela os transeuntes, colada que vai ao SMS.

setembro 09, 2005

Expresso Online e Google Talk

No Travessias Digitais, notas breves sobre o Google Talk e mudanças no Expresso Online.

setembro 07, 2005

De olhares: imagens de Bravo

No Centro Português de Fotografia, no Porto, as imagens a preto e branco de Manuel Alvarez Bravo convidam a um olhar desapressado e atento. Há rostos, paisagens, enquadramentos e pormenores de mestre que nos ficam na retina.

Deste fotógrafo mexicano, que atravessou quase todo o século XX, disse Kertesz que "nasceu com o feeling fotográfico". Isso mesmo pode ser confirmado nas revelações expostas nas imponentes paredes carregadas de história da Cadeia da Relação. Mais que apenas observá-las, Bravo tem esse talento raro de nos fazer sentir as suas fotos.


setembro 04, 2005

De ouvido: joalharia melódica

Primeiras impressões sobre o álbum Hope in a Darkened Heart, de Virginia Astley: simples, mas belíssima voz; os temas são bem mais "concretos" que as paisagens sonoras do marcante From Gardens Where We Feel Secure; o disco tem a (excelente) marca e o piano de Ryuichi Sakamoto; e, com a voz de David Sylvian a ajudar logo na primeira canção, como resistir a esta pequena e rara jóia, ?

setembro 02, 2005

Katrina: NYT demole Bush

A propósito da frouxa e tardia resposta da administração Bush à catástrofe provocada pelo Katrina, Paul Krugman, professor da Universidade de Princeton, faz hoje, no The New York Times, as seguintes perguntas: por que é que a ajuda e a segurança demoraram tanto tempo a chegar? Por que não foi tomada mais acção preventiva? A administração Bush destruiu a eficácia da Agência Federal de Emergência?

Pelo meio destas três perguntas, Krugman demole por completo a moleza de Bush, concluindo a sua coluna desta maneira: «Assim, a América, outrora famosa pela sua atitude de posso-fazer, agora tem um governo não-posso-fazer que arranja desculpas em vez de fazer o seu papel. E enquanto arranja essas desculpas, americanos estão a morrer.»

Ontem, o editorial do Times não era mais simpático para Bush. Bem pelo contrário. Título: Waiting for a leader. Eis um jornal na calha para entrar no Eixo do Mal...


No Travessias Digitais: Katrina: recursos online

Iraque, o desastre

O Iraque é notícia quase todos os dias pelas piores razões possíveis. Há sempre morte, sangue e caos para relatar. Chegados a esta altura, já toda a gente percebeu, excepto Bush e os seus obtusos neocons, que os EUA estão atolados numa grandessíssima trapalhada, ainda por cima mais cara, em termos financeiros, que o terrível Vietname. Como conseguiu esta administração norte-americana ser tão cega? Ou, mais prosaicamente, tão burra? Como cometeu semelhantes erros de cálculo? Por que mentiu tão descarada e empoladamente ao mundo? Numa pergunta: porquê?

Para se perceber como se chegou a este desastre total, que os mais avisados antecipavam antes mesmo da invasão, ilegal, do Iraque, a leitura do livro Iraque: História de um Desastre, de Ignacio Ramonet, é de leitura obrigatória.

Com a clareza e acutilância do costume, o director do Monde Diplomatique vai ao fundo dos interesses, quase sempre obscuros ou descaradamente oportunistas, daqueles que fizeram a cabecinha do presidente norte-americano: Cheney, Rumsfeld, Wolfowitz e outras tantas figuras sinistras que não aprenderam nada com a história e fomentaram o delírio militarista na Mesopotâmia.

«Está longe o tempo em que os "falcões" do Pentágono anunciavam que as forças de invasão seriam recebidas como libertadoras... Mas este colossal erro de análise está na origem da actual desordem. Embriagados de poder, os ideólogos de Washington tinham pressa em usar a terrível máquina de guerra norte-americana para realizarem o seu sonho delirante de "redesenhar o Médio Oriente". Tudo se volta agora contra eles.»

Leitura incontornável para quem não queira andar em manada, portanto.